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A Saúde da População Idosa no Brasil

Dr. Herton Coifman

Com o avanço da idade, tendem a surgir crescentes limitações para a execução das atividades do cotidiano, principalmente em função do agravamento das doenças crônicas mais prevalentes entre idosos. Com isso, o contingente de idosos com mais idade – 80 anos ou mais – tende a apresentar maior vulnerabilidade, perda de autonomia e independência. Idosos cujos múltiplos problemas médicos e sociais interagem e os colocam em maior risco de resultados adversos passaram a ser chamados de frágeis.

A Otorrinolaringologia é uma das áreas impactadas por esses dados, e tem uma enorme contribuição a dar na preservação e reabilitação da autonomia e independência na terceira idade. Nossa sugestão é manter cinco princípios básicos no serviço de Otorrinogeriatria:

1- Avaliações clínicas mais proativas e menos reativas.

2- Reunir procedimentos e funções (multidisciplinaridade) já existentes em um único espaço, para uma ação coordenada. Assim, encurta-se a peregrinação ambulatorial e diagnóstica, com atendimento mais individualizado e humanizado, transmitindo mais segurança e confiança ao paciente.

3- Prolongar o período de vida saudável (manutenção da autonomia): exercícios, alimentação, lazer/trabalho.

4- Ênfase na reabilitação em detrimento de polifármaco/hospitalização.

5- Um geriatra.

 

Avaliações Clínicas Mais Proativas e Menos Reativas

O mundo chega até nós pelos sentidos. Por meio deles, percebemos aquilo está à nossa volta. Sabe-se atualmente que a ideia de que dispomos de cinco sentidos está ultrapassada; na verdade, possuímos milhares deles. Quando falamos de sentidos, o que realmente queremos dizer são sensações ou percepções

A percepção é o “valor agregado” que o cérebro organizado confere aos dados sensoriais brutos. Ela vai muito além da paleta de sensações e envolve memória, experiência e processamentos cognitivos sofisticados (sono, equilíbrio, audição, gustação, olfato, entre outros).

É bem possível que o cérebro esteja organizado para fazer exatamente essa espécie de “mistura dos sentidos” como parte do processamento perceptivo.

Em Otorrinogeriatria, isto significa manter nosso cérebro saudável, conectado ao ambiente. A interface entre o cérebro e o ambiente é feita por milhares de conexões, nossos sentidos, cujo desempenho e integridade estão, em grande parte, aos cuidados da Otorrinolaringologia . A Otorrinogeriatra se preocupa com prevenção de quedas, demência, depressão, hospitalização e polifarmacologia, entre outros.

A solução consiste em considerar as várias queixas e achados clínicos que, tratados de maneira reacional na consulta ordinária do otorrinolaringologista, nem teriam sido encontrados. Se a conduta e o tratamento forem multidisciplinares, com fonoaudiólogo, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, psicólogo, psiquiatra e neurologista, entre outros, será possível evitar muitos casos de hospitalização, cirurgias e tratamentos de alto custo, como unidade de terapia intensiva (UTI). Trataríamos mais de equilíbrio, e menos de queda. Mais de audição, e menos de demência. Mais de disfagia, e menos de pneumonias por bronco-aspiração.

Ao manter os canais de comunicação funcionando, estamos providenciando um bom aporte de informações que mantém a cognição em nosso cérebro ativa e funcional.

A gestão da saúde consiste em prolongar a boa saúde da juventude, e não só tratar tardiamente intercorrências esperáveis e evitáveis, com recuperação sempre mais cara, complexa e insuficiente daquilo que foi perdido. O perfeito seria viver sem envelhecer, mas na falta dessa possibilidade, deve-se buscar o mais próximo possível disso.

Com todo o conhecimento disponível dos problemas de cognição no envelhecimento, encontramos pacientes com acompanhamento geriátrico, tomando antidemenciais e similares (com os prós e contra de cada um), perda auditiva ignorada e em privação auditiva, simplesmente pela audiometria não estar na rotina diagnóstica geriátrica.

Envelhecer de maneira saudável é manter nosso cérebro e corpo trabalhando, para preservação de nossa autonomia, autoestima, confiança e felicidade; exercitando essas funções continuamente.

Existe um arsenal de estratégias reabilitantes, bioquímicas, cirúrgicas, equipamentos múltiplos, e a exata combinação de todos esses recursos define quão eficaz será a gestão da saúde daí para frente.

As reabilitações têm papel fundamental em todas as condutas finais do tratamento (otorrino)geriátrico . São fatores importantes no controle da polifarmácia: aparelhos auditivos de vários tipos, pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP), higiene nasal e do sono, fisioterapia, videogames (para memória, equilíbrio), reeducação auditiva e vestibular, fonoterapia, entre outros. A cirurgia bem indicada não deve, em hipótese nenhuma, ser evitada apenas pelo critério cronológico, sob pena de agravar seus males de maneira irreversível e comprometer funções que sacrifiquem definitivamente a autonomia e qualidade de vida. Lente intraocular, implante coclear, cirurgias várias, nada deve ser dispensado, lembrando que o idoso deve passar antes, sempre que possível, por uma avaliação geriátrica ampla (AGA).

A consulta do otorrinogeriatra “se importa” com o paciente, e não só com sua queixa; e o uso de múltiplas estratégias de tratamento faz, certamente, a diferença. Por isso, a Otorrinogeriatria! Os especialistas focados na doença, que insistem no único curso que conhecem, às vezes acham que seus pacientes frágeis são inadequados e não conseguem lidar ou prosperar com o caso.

Atento a essa nova realidade da população, o otorrinogeriatra faz a diferença no tratamento, na humanidade e na viabilização da qualidade de saúde do idoso, somando-se ao esforço coletivo da sociedade.

 

Dr. Herton Coifman CRM 5746 / RQE 277

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