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Perda auditiva na infância

Dra. Bettina

Perda auditiva é a redução da audição em qualquer grau que reduza a inteligibilidade da mensagem falada para a interpretação ou para a aprendizagem.

A deficiência auditiva ocorre em 1 a 3 para cada 1000 nascimentos. Essa prevalência pode chegar a 8 para cada 1000 nascimentos em determinadas condições, como nas crianças prematuras. As causas tanto podem ser de origem genética quanto adquiridas (como infecções neonatais).

As perdas auditivas graves, em particular quando se instalam nos primeiros meses de vida, podem resultar em déficits permanentes:

•Na fala e na aquisição da linguagem oral e escrita;

•No aproveitamento escolar;

•No ajuste pessoal e social, incluindo dificuldades emocionais e problemas de comportamento.

A avaliação da audição na infância tem algumas peculiaridades principalmente com relação ao diagnóstico. Em recém-nascidos faz-se o teste da Orelhinha (Exame de Otoemissoes Acústicas) e o PEATE ou BERA (Potencial Evocado de Tronco Encefálico) que são exames objetivos, ou seja, não dependem da cooperação do paciente. A medida que a criança cresce podem ser realizadas a audiometria comportamental condicionada, que no entanto não consegue distinguir audição normal de perda auditiva unilateral. E após a idade de 5 a 6 anos, pode-se realizar a audiometria tonal e vocal como em adultos, fornecendo o limiar e tipo de perda auditiva, informações importantes para o seu médico realizar o diagnóstico e o tratamento adequado da Perda Auditiva.

Outro exame importante na avaliação das perdas auditivas é o de Processamento auditivo central, mas este exame sempre necessita ser realizado após uma audiometria, pois perdas auditivas podem alterar o seu resultado.

Marcos do desenvolvimento da linguagem

A perda auditiva que se desenvolve durante a infância pode ser detectada ao se

avaliar os marcos do desenvolvimento da linguagem (Quadro). Os pais devem

ser orientados para acompanhar o desenvolvimento de suas crianças. Em geral, os

pais e os professores são os primeiros a observar a perda auditiva. Geralmente esta

perda é avaliada comparando-se crianças da mesma faixa etária, em relação à

audição ou desenvolvimento da linguagem. Diante da suspeita dos pais ou professores, a audição devera ser avaliada pelos testes adequados. Somente podemos negar a suspeita de que uma criança não escuta bem, após a realização destes exames.

Quadro.

4 MESES

 

Balbucia ou “canta” o som de uma vogal;

Vira-se para ouvir;

Reconhece o som da voz de um genitor.

7 MESES

 

Ri alto;

Olha em direção ao som quando o ouve;

Balbucia usando principalmente vogais.

10 MESES

 

Vibra a língua entre os dentes;

Diz “mamãe” ou “dadá”;

Entende “não”.

14 MESES

 

Usa palavras “mamã” e “papá” para o genitor correto;

Obedece a um comando (como “pára”, “vem cá”, “me dá”).

18 MESES

 

Capaz de identificar objetos em figuras (p. ex.: cão, xícara, bebê);

Vocabulário com múltiplas palavras (4-5).

2 ANOS

 

Várias frases com duas palavras;

Vocabulário com 30-60 palavras.

>2 ANOS

 

Usa “me” e “você” (porém pode trocar o sentido);

O vocabulário pode aumentar para 500 a 1.000 palavras.

 

Influência da perda auditiva no desenvolvimento da linguagem

As crianças com perda auditiva mínima (16-25dB) terão mais dificuldades para

ouvir algumas consoantes e aquelas em fase de aquisição de linguagem poderão

apresentar alguma dificuldade. Esta perda auditiva pode ser flutuante, geralmente associada a episódios de otite média aguda (infecção dos ouvidos), que são freqüentes nos primeiros dois anos de vida. Poderá ser persistente, quando associada à otite média com efusão crônica (permanência de efusão ou líquido na orelha média por períodos superiores a 3 meses) ou em crianças com seqüelas de infecções otológicas (perfuração timpânica, otite atelectásica, otite adesiva). Na ausência destas patologias devemos avaliar a possibilidade de perda auditiva neurossensorial ou malformação da orelha (alterações genéticas ou congênitas).

Em caso de perda auditiva leve (26-40 dB) ouve-se apenas quando as pessoas falam em voz alta. A criança geralmente tem dificuldade para ouvir a fala cochichada ou distante. Pode apresentar retardo leve na aquisição da linguagem, leves problemas na fala (trocas de alguns fonemas: “t”por “d”, “f”por “v”, “p”por “b”, “q”por “g”). Aquelas em fase de alfabetização poderão apresentar trocas na escrita e poderão ser diagnosticadas erroneamente como desatentas (é mais fácil escutar o colega ao lado que a professora,  que nem sempre está próxima). Daí a grande importância do diagnostico diferencial e, no caso da Perda auditiva, de um posicionamento adequado desta criança na sala de aula (primeira fila e cadeiras centrais).

As crianças com perdas auditivas maiores que 40dB não escutarão a maioria das palavras de uma conversa falada em intensidade normal. Também apresentarão problemas de fala, retardo no desenvolvimento da linguagem, dificuldade no aprendizado e “desatenção”. As complicações mais graves das otites (perfurações da membrana timpânica, destruição ou ruptura da cadeia ossicular), alguns casos de otite média com efusão crônica e os colesteatomas, podem causar esta perda auditiva. As perdas neurossensoriais podem causar perdas leves ou moderadas na infância, que podem evoluir durante a juventude (perdas auditivas genéticas).

A criança com deficiência auditiva grave (66-90dB) somente escuta se a pessoa fala mais alto e está bem próxima. Geralmente é capaz de identificar sons ambientais e pode distinguir vogais, mas não consoantes. A fala e a linguagem não se estabelecem espontaneamente se este nível de perda auditiva estiver presente desde o nascimento, por isso a importância de avaliação precoce da audição, que hoje em dia é realizada universalmente na maternidade (Triagem auditiva neonatal universal – teste da orelhinha).

Na presença da perda auditiva profunda, as crianças somente ouvem sons muito altos e não escutam o som da voz. As meningites, perda auditiva genética ou congênita e o uso de medicamentos ototóxicos (as vezes utilizados em UTIs neonatais) são as principais causas das perdas graves e profundas.

O contexto sócio familiar da criança deverá ser avaliado juntamente com os resultados da audiometria. Uma criança com perda auditiva leve poderá se desenvolver melhor em um ambiente adequado de estímulos, quando comparada a uma criança com perda auditiva discreta mas sem estímulos adequados. Aquelas famílias com crianças portadoras de perda auditiva deverão proporcionar um ambiente rico em afeto e estímulos, independente da terapia instituída. Dependendo do caso e do grau da Perda auditiva seu médico poderá indicar tratamento com protetização auditiva, acompanhamento fonoterápico ou no caso das perdas severas e profundas bilaterais, Implante coclear. Também poderá haver a indicação de comunicação por LIBRAS (linguagem brasileira de sinais) em determinados casos.

O hospital IPO é centro de referência em implante coclear, infantil e adulto, e na terapia de reabilitação auditiva. Realizamos cursos na área e desenvolvemos atividades informativas através de gibis com conteúdo lúdico para crianças.

fontes utilizadas: MANUAL DE OTORRINOLARINGOLOGIAPEDIÁTRICA DA IAPO, Projeto diretrizes.

Dra Bettina Carvalho CRM: 25106 / RQE 2435
Médica Otorrinolaringologista pela ABORL.
Mestre em Saúde da Criança e Adolescente pela UFPR.

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